terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Identidade




Gritou meu nome com aquela voz inconfundível e um tom de correção. Na hora eu sabia que tinha “pisado na bola”. Entrei na sala e comecei a ouvir o sermão. Fiquei sobressaltada quando sua fala começou a falhar e seu corpo caiu sem vida sobre a mesa. Descobri nos próximos minutos que vivia uma grande fraude. Ele estava sem bateria! Minha impressão mais inocente é que ele estava morto, mas exatamente na hora que eu ia tentar ajudá-lo, alguém entrou na sala com baterias novas e imediatamente as trocou. Ele ficou resmungando pela demora. Com um grito colérico expulsou o funcionário da sala, direcionando com muita determinação o dedo indicador da mão direita para a porta. Foi perceptível o medo na face do funcionário. O chefe me olhou apreensivo, na mesma hora percebi o motivo: Eu o havia descoberto.

- Então você não desconfiou ou suspeitou? – perguntou ele com um tom de dúvida sarcástica.

-Não, nunca poderia suspeitar. Um robô como chefe é tão improvável que é difícil de acreditar. Quem mais conhece a sua verdadeira identidade?

Seus olhos e seu sorriso se satisfaziam com a minha ignorância. Ele se levantou, andou até mim, soltou um suspiro e me desligou.

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