terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Do Desconforto


- não percebe nenhuma mudança, nada diferente?

O cenho franzido e um aceno negativo com a cabeça se uniram ao silêncio da dúvida.

-raspei sua sobrancelha, enquanto você dormia.

O esboçar do sorriso no seu rosto não era petulante, tampouco sarcástico, mas o deleite com que discorria aquilo deixava visível algum sentimento inexplicável, que rodeia as palavras ambíguas e inábeis.

- o que você fez!?

O desconforto pulsante e oculto teve como abrigo o semblante das duas, que permaneceram ligadas pelo olhar desconfiado. Começaram a entender o ódio desconhecido que as unia ternamente por todos aqueles anos. Encontraram razões obscuras naquele curto espaço de tempo, caçavam na memória todos os pequenos e grandes sinais que já as tivessem aborrecido, e reviviam cada minúsculo segundo de zangas. Os dias seguintes se destinaram a comportamentos inclinados aos incômodos aglomerados de todos os anos vividos, aos falsos arrependimentos, ao desrespeito e as tentativas ingênuas em retomar a frágil confiança que as unia.

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